16/11/2008



Inteligência. E alma. E o contágio
recíproco de pulsos que as intrinca.
E de onde se pressente a luz do tacto
a romper. Mas só ainda
para a evidência de um cariz abstracto
que apenas por seu dentro se ilumina.
E funda, no entanto,
o mundo da surpresa. Tão longínqua
que nem mesmo se lhe lobriga o halo
de lavração oculta. Nem de linha
especular desenvolvendo o campo
aonde corpos poderão vir acima.
Inteligência e alma instauram pasmo
no recuo da sua nostalgia.

Recuo, sim. Mas quase, sobretudo,
reencontro do tempo em que o espaço
envolvia o assombro ininterrupto
de estar surgindo. Em novidade e impacto.
E em nudez de estranhamento augusto
a aparecer estreado
na lucidez atónita do mundo.
Ou na reminiscência de que há-de vir o tacto.
E o reconhecimento do recuo
a dar sem conta o patamar sagrado
duma distância onde o luto
é, sobretudo essa distância em acto.

Distância de contenda recolhida
ao vínculo de luto que consagra
a resistência. Com, também, a íntima
razão de acolhimento que à palavra
acede. A traz à paração. A intrinca
no corpo irredutível onde a alma
surpreende só essa firmeza antiga
afeita a receber toda a distância.
E o contágio duma sombra amiga
que lhe assombra a firmeza desejada.


CORPO INTENSO
Fernando Echevarría
Rui Aguiar
Edições Afrontamento


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