13/02/2009

"Esculturas de um minuto" de Erwin Wurm


One Minute Sculpture (Besen), Helsinki
Colagem, 16 Polaroids, 35 cm x 84 cm
"A radical certeza de ter um corpo
(...)
As esculturas têm essa estranha tradição de serem matéria a fingir que é espírito, desde as estátuas neoclássicas que se contorcem a libertar-se da força da gravidade, segundo o exemplo do Laocoonte, até aos corpos esguios de Giacometti. Ao fugir do solo, ao contrariar a gravidade, libertam-se do destino dos corpos, que é de regressarem sempre ao pó.
Paradas, imóveis, têm a arrogância do passado e da eternidade.
As fotografias de Erwin Wurm são sobre esculturas reduzidas à mais prosaica humanidade. O material passa a ser o corpo humano que assume posições simples, facilmente descritíveis, por vezes paradoxais: um homem deitado no chão, dois personagens frente a frente unidos por objectos ou outra trivialidade qualquer.
As esculturas reduzidas à sua expressão humana, tendo o corpo como matéria-prima, têm necessariamente que ser breves, fugazes como os dias: chama-lhes "esculturas de um minuto". São, claro, parentes da dança contemporânea que, como a escultura, também abandonou o vôo para se ligar ao chão. Como numa coreografia, os momentos congelados de Wurm são pequenas ironias humanistas, imagens de uma gramática de gestos que não pára de reivindicar um estatuto prosaico, quotidiano banal e poético para a condição de estar vivo e possuir um corpo - e esta é a nossa mais radical certeza."
Excerto de artigo de Delfim Sardo,
publicado na revista Única/ Expresso de 7 de Fevereiro de 2009

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