18/12/2008

Figuras da Dança



A dança

" Vê como em passo flutuante em impulso ondeado os pares
Dão voltas, o chão mal é tangido pelo pé sabedor.
Vejo sombras fugazes, libertas do peso do corpo?
Enlaçam ali elfos ao luar a roda etérea?
Como, embalado por Zéfiro, o fumo flui para o ar,
Como a barca silenciosa baloiça no fluxo argênteo,
Salta o pé sabedor na onda melodiosa do compasso,
Sons murmurantes de cordas erguem o corpo etéreo.
Agora, como querendo quebrar com força a cadeia da dança,
Baloiça um par ousado nas filas mais cerradas.
Diante dele surge, rápida, a via que atrás dele se esvai,
Como por mão mágica abre-se e fecha-se o caminho.
Vê! agora desapareceu ao olhar, na confusão selvagem
Cai a frágil construção desse mundo móvel.
Não, ali emerge com alegria, o nó desfaz-se,
Apenas com novo encanto se restabelece a regra.
Eternamente destruída, produz-se eternamente a criação em voltas,
E uma lei silenciosa orienta o jogo das metamorfoses.
Diz, como acontece que as formações oscilem, em incessante renovação
E o repouso persista na figura em movimento?
Que cada ser soberano, livre, obedeça apenas ao próprio coração
E encontre no curso rápido o único caminho?
Queres sabê-lo? É da harmonia a poderosa divindade
Que ordena o salto brusco em dança de convívio,
Que, igual a Nemesis, com a rédea dourada do ritmo
Dirige o prazer estridente e domina o selvagem;
E para ti murmuram em vão as harmonias do universo,
Não te possui a torrente desse canto sublime,
Não o compasso entusiástico que todos os seres batem para ti,
Não a dança em remoinhos, que pelo espaço eterno
Irradia sóis brilhantes em órbitas ousadas?
O que veneras no jogo, evitas na acção, a medida."

Poema de F. Schiller (1800), no âmbito dos seus ensaios sobre uma teoria do movimento, em:

Roger W. M. FARGUELL, "Figuras da Dança", Fundação Calouste Gulbenkian

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